Vídeo raro, feito pelo celular por Ivaldo Guimarães, durante exibição no aparelho de TV.
Na Idade da Imagem, a memória não tem como escapar. Basta um vídeo recebido pelas redes sociais e vêm à tona lembranças que pareciam soterradas pelo dia a dia, em especial nesse hiato de isolamento social em que uma pandemia global tenta nos imergir. E eis que ressurge a cena, com cabelos para segurar e juventude para reviver.
Recorrendo ao Google para situar a Fábrica no Som no contexto da história, sou socorrido por estas informações da Wikipídia:
"A Fábrica do Som foi um programa de televisão brasileiro produzido e exibido de 1983 a 1984 pela TV Cultura. Com apresentação de Tadeu Jungle, o programa era gravado no SESC Pompeia e mostrava o trabalho independente de jovens artistas que produziam uma música diferente e tinham a preocupação de não se submeter a gravadoras."
E a descrição prossegue: "Uma vez por semana os iniciantes contracenavam com gente consagrada. Esses jovens artistas são hoje alguns dos nomes mais importantes da cena underground do rock brasileiro, entre eles, o dublador Tatá Guarnieri, Titãs, Capital Inicial, Ira!, Cólera, Os Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Raul Seixas e Ultraje a Rigor. O Fábrica do Som foi escolhido Melhor Musical pela APCA em 1983."
Feita a apresentação, ressalto aqui uma edição especial do programa feita como celebração musical e poética em homenagem a Augusto de Campos.
É sabida a ligação de Augusto com a música, seja erudita ou popular. Certa vez, com Tom Zé e outras pessoas, participei de uma audição da obra de Webern no apartamento onde mora com Lygia Azeredo (e onde vivia na época o filho Cid Campos), no bairro das Perdizes, em São Paulo. Na ocasião, o poeta nos destacava a importância do silêncio na música do compositor austríaco.
Eu havia lido, com certa avidez, o seu livro Balanço da Bossa e Outras Bossas, indispensável aos quem têm interesse em mergulhar no estudo da música popular brasileira. Em outra ocasião, ao chegar para um jantar em comemoração ao aniversário de Augusto, fiquei agradavelmente surpreso ao encontrar Caetano Veloso.
Após a ceia, circulou um violão e ouvi, em primeiríssima mão e ao vivo com o autor, a composição Meu bem, meu mal, que Caetano anunciou como uma nova canção que fizera para Gal Costa.
Lembro que alguém (Cid Campos ou Augusto) me pediu para cantar Fios da Light (atendi ao pedido corajosamente), e que Péricles Cavalcante também interpretou uma de suas músicas.
Mas voltemos à homenagem prestada ao poeta pela Fábrica do Som. Aconteceu exatamente em 17 de setembro de 1983 e teve a participação de personalidades como Caetano Veloso, Walter Franco, Regina Casé, Jards Macalé e Haroldo de Campos.
Na época, um ano depois do lançamento do álbum Cabelos de Sansão, ali estava eu e a banda Sexo do Anjos integrando aquele histórico evento.
Afinal, eu havia gravado a versão que Augusto de Campos fizera para a belíssima Little Wing, de Jimi Hendrix, na manhã seguinte depois de me ouvir cantá-la numa roda de artistas reunidos no apartamento em que eu morava com Monica Nunes, bem na esquina das ruas Girassol e Purpurina, em plena Vila Madalena. Um presente pelo qual sou, até hoje, imensamente grato.
Quanto ao Sexo dos Anjos, era formada por Luiz Brasil (guitarra), Felipe Ávila (guitarra), Cid Campos (baixo) e Xico Carlos (bateria) e havia atuado como banda base nas gravações do Cabelos de Sansão, bem como me acompanhado em shows no Lira Paulistana, onde também apresentavam seu competente trabalho instrumental e autoral. Além disso, Cid e Xico tinham estado comigo no Papa Poluição, juntamente com José Luiz Penna, o saudoso Paulo Costta e Beto Carrera.
Na apresentação da Fábrica do Som, optamos por tentar nos aproximar da formação com a qual Asa Linda foi gravada em Cabelos de Sansão, com Xico Carlos no baixo e Cid Campos na craviola (no disco, tínhamos ainda Paulo Costta ao violão e Dino Vicente emulando uma guitarra no sintetizador).
Vindo diretamente do túnel do tempo, o inesperado faz uma surpresa, com a Asa Linda de Augusto e Hendrix soando alto mais uma vez, junto às batidas do meu coração.
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Que surpresa! Não sabia que o Cid Campos do Cabelos de Sansão é filho de Augusto de Campos. Cid fez um trabalho primoroso em Redemoinho, entre outras canções daquele álbum. A craviola, nessa canção, responde pela pulsação e energia da instrumentação, ao meu sentir.